Milhares de músicas foram escritas por amor, milhões de livros foram vendidos falando de amor, filmes foram gravados, novelas foram produzidas, pessoas lotaram óperas, teatros e exposições. Porque no fundo todos nós desejamos amar e sermos amados, ainda que sob um conceito deturpado de amor.

No Simpósio, de Platão, Sócrates diz:

Uma pessoa que pratica os mistérios do amor estará em contato não com um reflexo, mas com a própria verdade. Para conhecer essa bênção da natureza humana, não se pode encontrar auxiliar melhor do que o amor.

O amor real te coloca em contato com o âmago do seu ser. Aquelas características mais profundas que tentamos esconder até de nós mesmos. O amor real te faz ver o outro como ele é ao passo que nos permitimos ser quem realmente somos. Não é real o amor que tenta mudar o outro. Afinal, se você tenta mudar o outro, você não ama quem ele é, mas somente a projeção que você criou daquela pessoa. E nenhuma projeção é real!

Em Amor, liberdade e solitude, Osho diz que “o amor usual finge demais. O amor real é, não finge; ele simplesmente é. O amor usual se torna enjoativo, açucarado, chato, o que se chama de amor piegas. Ele é enjoativo, nauseante. O amor real alimenta; ele fortalece sua alma. O amor usual alimenta somente o seu ego – não o você real, mas o irreal. Lembre-se, o irreal sempre alimenta o irreal, e o real alimenta o real”.

E o amor real começa por amar primeiramente a si mesmo. A maioria das religiões ensinam a amar o outro e não a si mesmo. Eu pergunto: por acaso podemos dar aquilo que não temos? Se eu não sei me amar, como poderei saber amar saudavelmente o outro? E o amor real é sobre isso: ser saudável! Afinal, quem nunca sofreu por estar com a pessoa errada, por sentir que o desejo esfriou ou pelo carinho que nunca aconteceu?

O “mal de amor”, aquele tudo sofre e nada espera, nasce justamente das crenças irracionais e irrealistas de que o amor não é para ser entendido, mas para ser sentido e aproveitado, e que o romantismo não abarca nenhuma lógica. Essa atitude sentimental além de ingênua, é perigosa. Particularmente não acredito que o amor tudo sofre e nada espera. Acredito que quando amamos sabemos limitar saudavelmente e ponderar a relação de forma racional, sem romantizar e sem vitimizar.

O amor real conhece a compaixão, mas não se deixa desnortear por preocupações. Em algumas vezes ele é duro, quando se é necessário ser duro. Outras vezes ele é distante, se ficar distante for ajudar. Em certos momentos é frio, caso seja necessário ficar frio. Porque o amor real leva em conta tudo o que for necessário sem causar ansiedade. Ele não satisfará nenhuma necessidade irreal ou ideia venenosa do outro. O amor inteligente é um cardápio ativado de acordo com as necessidades: tudo em seu tempo, na medida e de forma harmoniosa. Um amor completo, sadio, gratificante, que nos aproxime mais da tranquilidade do que do sofrimento requer a união do desejo, da amizade e da ternura.

E absolutamente todas as maneiras saudáveis de amar inicia-se por um amor saudável por si mesmo, nem sacrificante, nem egoísta, um amor real baseado no ser e não no ego.  O amor saudável por si mesmo é um dique de contenção contra o sofrimento mental. Amar a si mesmo também é o ponto de referência do quanto se deve amar os outros.

Então, sim! Todos desejamos amar e sermos amados, o nosso ser, a nossa essência anseia pelo amor real e saudável, mas na maioria das vezes nos entregamos ao ego e às sensações.

E para encerrar, deixo duas reflexões de dois autores que me são favoritos.

“O amor não é sentimentalidade, não é emocionalismo, nem devoção. É um ‘estado de ser’ lúcido, são, racional, incorrupto, do qual procede a ação total, a única que pode dar a verdadeira solução a todos os nossos problemas.” Krishnamurti

“Não há nada mais sensível do que o amor, nada mais arrebatador, nada mais vital. Renunciar a ele significa viver menos ou não viver.” Riso

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